Ao tempo sequencial e cronológico ‘CHRONOS’, opõe-se ‘KAIROS’, um tempo indeterminado e de carácter simbólico que não pode ser medido senão pela sua qualidade.
A proposta arquitectónica apresentada pretende colocar em diálogos dois tempos aparentemente inconciliáveis. Desde a antiguidade que os edifícios aspiram à ideia do ‘eterno’ através de uma espacialidade e materialidade capazes de resistir ao tempo. Os grandes templos e as catedrais, integralmente edificadas em pedra natural, continuam a coexistir com a contemporaneidade, cada vez mais volátil e menos profunda.
As construções em Betão representam, sem dúvida, o legado da modernidade e recuperam, cada vez mais, esta ideia simbólica da eternidade. Assistimos, contudo, a um uso cada vez maior de materiais pouco duráveis enquanto reflexo de uma Arquitectura do momento, incapaz de dialogar com a História, quer pela materialidade, quer pelo sistema construtivo.
Vários são os exemplos de construções temporárias que, pela sua importância, espacialidade e materialidade, acabaram por perdurar, tornando-se actualmente em referencias incontornáveis tal como o Pavilhão de Barcelona, de Mies Van der Rohe ou o Pavilhão Português projectado por Álvaro Siza e Eduardo Souto Moura.
Este confronto entre o efémero e o perene é algo que vale a pena investigar através de um olhar sobre as hipóteses que o nosso tempo pode oferecer. O Betão pré-fabricado é, certamente, um modo de trabalhar simultaneamente estes dois aspectos uma vez que permite o trabalho com um material durável, resistente, capaz de dialogar com o Tempo, através de uma construção modular, simples e de rápida montagem ou desmontagem.
O projecto KAIROS, dos arquitectos João Quintela e Tim Simon, surge enquanto resultado de uma pesquisa espacialmente referenciada na história através do uso da Matéria, da Luz e do Tempo. A matéria do Betão, a Luz do Sol e o Tempo, por estes construído. Trata-se de uma investigação sobre as proporções e a relação de compromisso entre a pequena escala do módulo isolado e a grande escala do edifício em relação com o seu todo e com o contexto onde se insere.
O espaço faz-se construir por um sistema simples de sobreposição e encaixe de peças, tirando partido do seu peso próprio sem recorrer ao uso de colas ou parafusos. É um edifício de planta quadrangular com 7,2 metros de lado e 3,6 metros de altura com um pátio quadrado no interior. Deste modo, existe um perímetro em seu redor constituído por um percurso que se desenvolve tanto a nível inferior como a nível superior, potenciando dois espaços com dimensões semelhantes mas bastante antagónicos em termos sensoriais. Um, coberto e sombrio, outro, exterior e luminoso.
O pátio interior, definido pelo espelho de água que reflecte o céu e duplica o espaço, torna-se no elemento central, inacessível e contemplativo, capaz de congelar o Tempo e permitir um momento de reflexão interior, um dialogo com o passado. Torna-se na presença mais significativa e ganha simbolismo através da sua impossibilidade de conquista.